- Os tentáculos do neofascismo estão presentes nas duas candidaturas que concorrem no segundo turno à prefeitura de Aracaju/SE. A diferença é que Emília Corrêa (PL) compõe o bolsonarismo partidariamente, enquanto Luiz Roberto (PDT) aderiu a ele por fisiologismo.
Emília Corrêa se apresenta na cena política com o papel de uma bolsonarista moderada. Reconhece que é uma cristã conservadora, mas fala em defesa da população LGBT; declara-se de direita, mas alega que “nem tudo da direita e nem da esquerda é tão ruim, ou tão bom” e que “nunca foi ativista de nada”. Porém, para além das aparências, Emília está ao lado do bolsonarismo mais reacionário, violento e antidemocrático que existe no Brasil.
Emília é do PL, comandado em Sergipe por Edivan Amorim, partido de Bolsonaro. Ela recebeu o apoio direto de Jair Bolsonaro e de Michelle Bolsonaro nessas eleições, articulado pelo deputado federal sergipano Rodrigo Valadares (UB). Rodrigo é hoje o político sergipano mais próximo do líder fascista e de sua família, um verdadeiro braço direito. Tanto é que é relator do Projeto de Lei que decreta a impunidade dos crimes cometidos no atentado golpista, no 08 de janeiro, em Brasília. Como declarou o deputado, “o projeto de Bolsonaro para Sergipe é Emília”. - O governador de Sergipe, Fábio Mitidieri (PSD), e o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira (PDT), donos da candidatura de Luiz Roberto (PDT), representam uma direita fisiológica, que hoje se inclina em direção à extrema-direita. Porém, historicamente, a depender dos seus interesses imediatos, eles oscilaram um pouco mais para a direita ou um pouco mais para a esquerda. Por sua vez, o senador Laércio Oliveira (PP), que indicou o vice de Luiz, Fabiano Oliveira (PP), é um bolsonarista ferrenho.
Edvaldo Nogueira (PDT) e Fábio Mitidieri (PSD) guardam em comum com o bolsonarismo, principalmente, o programa econômico neoliberal. Privatizaram a DESO, foram lenientes com o desmonte da Petrobras no estado, têm perseguido professores e, cruzando qualquer linha, o governo Mitidieri chegou a hastear a bandeira de Israel no Palácio dos Despachos durante a retomada do genocídio na Palestina.
O senador Laércio Oliveira (PP), que vem sendo um aliado deles nos últimos anos, apoia e participa pessoalmente de manifestações convocadas por Jair Bolsonaro. Ele foi, por exemplo, uma das vozes contrárias ao “lockdown” durante a pandemia, vocalizando a insatisfação de setores da pequena e média burguesia sergipana que apoiam o bolsonarismo.
Contudo, o pragmatismo sem princípios do governador e do prefeito é demonstrado, por exemplo, pelo apoio que Edvaldo Nogueira, supostamente um ex-comunista, deu a Lula no segundo turno de 2022, seguindo orientação do PDT; pelo voto de Fábio Mitidieri contra o golpe de 2016, quando era deputado federal, e pela sua neutralidade nas eleições presidenciais de 2022. - O fascismo não é um mero adjetivo, é um movimento reacionário de massas, é uma força política capaz de mobilizar e organizar as pessoas contra as instituições da democracia e contra as organizações populares. O fascismo é o inimigo principal das classes trabalhadoras.
Desde as marchas que antecederam o golpe militar de 1964 até junho de 2013, as manifestações de rua no Brasil eram uma exclusividade da esquerda. Hoje está longe de ser. Não se deve subestimar a capilaridade e a capacidade de mobilização que o movimento neofascista tem adquirido, inclusive no Nordeste. Em Aracaju, por exemplo, os bolsonaristas ficaram dois meses e meio acampados em frente ao Quartel do 28 BC reivindicando um golpe militar, após a derrota eleitoral de seu candidato. E só saíram de lá por ordem judicial, após a intentona golpista de 08 de janeiro fracassar.
O bolsonarismo foi a força que mais cresceu no senado, na câmara e nos governos nas eleições de 2022. Ele conta com o poder armado, ou seja, com as forças armadas, as polícias, as milícias e os cac’s. Tem apoio entre grandes rentistas, fazendeiros, alta classe média, pequenos e médios empresários. Infiltra-se nas massas populares, através de igrejas neopentecostais. Esse movimento já mostrou o que deseja, instalar uma ditadura, com um programa contra o trabalhador.
O bolsonarismo tem buscado ganhar força por dentro da institucionalidade, ao passo que promove ações violentas e organização de massa. As lideranças neofascistas estão ganhando terreno e é possível que consigam retomar a presidência da república, ou eleger parlamentares suficientes até para aprovar impeachment de ministros do STF, em 2026. Isso se, antes, não fizerem uma nova investida golpista.
Esse cerco fascista não é algo isolado. Ele cresce na Argentina, Bolívia, EUA, Israel, Itália, etc., e alimenta guerras na Ucrânia, Palestina, Líbano, Irã. É o produto, de um lado, do fracasso e da frustração das massas diante das crises constantes do capitalismo. E, de outro lado, de uma esquerda que, na maior parte do mundo, com o fim traumático da URSS, se acomodou ao sistema e se distanciou da educação e organização popular. - Sem vacilações, e sem retirar qualquer crítica, devemos votar em Luiz Roberto (PDT) no segundo turno da prefeitura de Aracaju/SE. Não há espaço para voto nulo. O neofascismo tem crescido em Aracaju/SE e uma vitória de Emília Corrêa empurra a política e a sociedade sergipana mais à direita e para mais perdas dos trabalhadores.
Para facilitar a resistência contra essa ofensiva que nos atinge, devemos explorar cada brecha possível. É preferível a direita fisiológica que está abraçada ao neofascismo do que o projeto neofascista em pessoa.
O crescimento do neofascismo em terras sergipanas não é de agora. O bolsonarista Valmir de Francisquinho (PL), com Emília Corrêa como vice, conquistou quase 458 mil votos no primeiro turno das eleições para o governo de Sergipe, em 2022, mesmo tendo sido declarado inelegível. Muito provavelmente, ele seria hoje o governador do estado se a sua candidatura não tivesse sido indeferida pela justiça eleitoral.
Na câmara municipal de Aracaju, entre 2020 e 2024, os partidos alinhados com Bolsonaro (PL, PP, PSC, PRD, PRTB e Republicanos) diminuíram sua presença de 07 (sete) para 04 (quatro) vereadores eleitos. Entretanto, na observação qualitativa, enquanto os vereadores da legislatura anterior não cumpriam o papel de agitadores bolsonaristas, dessa vez foram eleitas duas candidaturas neofascistas de carteirinha, Moana Valadares (PL) e Lúcio Flávio (PL).
Resistir, como pudermos, é o que melhor pode favorecer mudanças de rumo. Não se pode cogitar o voto nulo quando há contradições a serem aproveitadas nas trincheiras do inimigo. É a democracia e o futuro do país que está em jogo. - Por sua vez, o governo Lula segue cercado. E a esquerda organizada está enfraquecida e despedaçada. O único caminho para revertermos a ofensiva fascista em Sergipe, no Brasil e no mundo é a unidade da esquerda social-democrática e socialista e a reconexão dos movimentos, sindicatos e partidos com os trabalhadores.
O chamado “teto de gastos” criou mecanismos que dificultam investimentos do executivo federal e que direciona os recursos públicos para a remuneração de grandes rentistas. O Governo Lula conta apenas um 1/5 da câmara dos deputados, e menos ainda no senado federal. A ameaça de um golpe, ou de um impeachment comandado por Artur Lira, servem de chantagem constante, inclusive para retirar o poder decisório da presidência e rebaixar o programa do governo.
Enquanto isso, os sindicatos, movimentos populares e partidos de esquerda têm cada vez menos capacidade de mobilização e de disputar os corações e mentes do povo. É preciso reconhecer que a esquerda brasileira, esculpida nas lutas contra a ditadura militar, no final da década de 70 e durante a década de 80, está se desintegrando. Esse é o resultado de três décadas de afastamento de um projeto de ruptura e de transformação social profunda no Brasil, acompanhadas da ausência de um trabalho contínuo de educação, organização e luta ao lado do povo.
Contudo, entre 2015 e 2018, a experiência da Frente Brasil Popular em Sergipe, que depois se somou à Frente Povo Sem Medo, mostrou a possibilidade e a potencialidade de uma esquerda unida em nosso estado. As disputas eleitorais não podem ser forças centrífugas que impeçam a unidade diante dos nossos objetivos maiores. Nem podem substituir o trabalho de formação de quadros políticos pelo de formação de eleitores.
A superação desses desafios exigirá resistência, pensar e fazer a política para além das eleições e a paciência e a persistência para juntarmos os melhores cacos dessa esquerda despedaçada ao novo que há de vir. Indispensavelmente, exigirá a ousadia de defendermos uma revolução, que dê a luz a um Brasil soberano e popular, realizando as potencialidades do nosso país e do nosso povo.
Nota da Consulta Popular sobre o segundo turno das eleições em Aracaju/SE
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