Correios: um serviço essencial em risco

Há cerca de dez anos atrás, os Correios tinham 120 mil trabalhadores no Brasil, hoje são apenas 85 mil. Em Sergipe, eram 1,2 mil trabalhadores, hoje são somente 700. De lá para cá, o serviço não diminuiu, pelo contrário, só fez aumentar. Municípios do interior que praticamente não tinham entregam, por exemplo, hoje passaram a fazer compras na internet com grande frequência.

No nosso estado, tem quem chegue a trabalhar em três agências em municípios diferentes, na mesma semana. Quando trabalha em uma, a outra fica fechada, com as entregas se amontoando. Muitas vezes, essa pessoa acumula funções diferentes, fazendo tanto os atendimentos, quanto as entregas.

Desde 2011, não é feito concurso público nos Correios. A empresa reconhece o déficit de trabalhadores, estimando-o em 10 mil. Mas a realidade é que esse déficit chega a, pelo menos, 40 mil. De qualquer modo, o concurso que está previsto não chega nem perto de qualquer um desses números. Serão ofertadas apenas 3 mil vagas. Para piorar, cerca de 3 mil trabalhadores sairão da empresa em breve, com o Pedido de Demissão Voluntária (PDI) que será aberto. Ou seja, vão trocar seis por meia dúzia.

Em que pese o trabalhador dos Correios venha, literalmente, adoecendo, em 2018, durante o governo de Michel Temer, perdemos o direito ao Correio Saúde, plano de saúde que foi conquistado e consolidado por 20 anos. O fato é que o golpe contra Dilma Rousseff resultou, também, em um golpe contra os Correios. De lá pra cá, a ofensiva foi brutal.

Em 2020, no governo Bolsonaro, de 86 cláusulas protetivas dos trabalhadores previstas em Convenção Coletiva, 50 cláusulas foram retiradas, perdendo-se abonos, tickets, dentre outros. A canetada foi de Ives Gandra, o mesmo jurista que fez um parecer favorável ao impeachment de Dilma. O “teto de gastos” criado por Michel Temer, mesmo que abrandado pelo atual governo Lula, serve hoje como entrave para sufocar os Correios.

Ressalte-se que os Correios são uma empresa pública que consegue gerar lucro. Em 2020, o lucro dos Correios chegou a mais de R$ 1,5 bilhão (um bilhão e quinhentos mil reais). A empresa pública de postagens dos Estados Unidos, chamada USPS, fecha o caixa no prejuízo todo ano. Porém, ela é percebida no país como um braço do Estado, como um serviço para o cidadão. É assim que os Correios devem ser vistos no Brasil. Sem necessariamente a expectativa do lucro, mas sim de um bom serviço para o povo.

Os correios entregam vacinas, entregam documentos e auxiliam no ENEM, que são atividades que não geram lucro. Além disso, estão à disposição do país para atender às necessidades sociais. Nas enchentes do Rio Grande do Sul, por exemplo, foram os Correios que garantiram a logística de entrega das doações para as famílias atingidas no estado. Se a empresa fosse privatizada, como já se tentou muitas vezes, sua função social cessaria.

Os Correios estão em todas as cidades do Brasil, das grandes capitais aos pequenos municípios. Existem cerca de 12 mil agências espalhadas pelo país, integrando toda a população. Mas é importante destacar que apenas 400 delas geram lucro. Assim, o que grandes capitalistas que desejam a privatização querem é abocanhar essa parte da empresa e elevar os preços. A ideia da privatização é apenas tirar o filé, deixando para o Estado a parte que não é lucrativa. Aí sim a população iria pagar caro pelos Correios.

O déficit de funcionários, a falta de cuidado com o trabalhador, os salários baixos e os assédios constantes da privatização ameaçam a continuidade dos Correios. Nós, trabalhadores dessa empresa pública brasileira, estamos, neste momento, lutando por condições dignas de trabalho, por um plano de saúde que não consuma metade do nosso salário e pela reposição dos trabalhadores através de concurso público.

Essas são medidas urgentes para que esse serviço essencial seja resguardado e possa se fortalecer. É dando nosso melhor, dia após dia, que os serviços dos Correios, apesar dos inegáveis problemas e obstáculos, continuam sendo uma referência no país.

por: Jean Marcel Reimon
Diretor do SINTECT/SE (Sindicato dos Trabalhadores dos Correios em Sergipe)

Foto: SINTECT/SE, greve dos trabalhadores dos Correios.

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