
A possível mudança da sede do legislativo municipal levanta dúvidas sobre prioridades, custos e compromisso com o centro histórico de Aracaju
*Por Emanuel Rocha
O centro de Aracaju assiste, mais uma vez, a um movimento de afastamento institucional — e, desta vez, quem está prestes a deixar o coração da cidade é a própria Câmara Municipal. A mudança ainda não se concretizou, mas o debate já está posto. E diante do impacto simbólico e político dessa decisão, uma cobrança é inevitável: os vereadores devem explicações claras à população. Por que sair? Por que agora? E, principalmente, por que silêncio por parte da maioria dos vereadores?
Ao longo das últimas décadas, o centro foi sendo esvaziado — primeiro por moradores, depois por órgãos públicos como a Prefeitura, o Governo Estadual e o Ministério Público. A retirada da Câmara seria mais um elo rompido entre o poder público e o espaço urbano onde a cidade começou. Mais do que uma mudança de endereço, trata-se de uma escolha de valores e prioridades.
A justificativa gira em torno da necessidade de melhores condições. Mas será que não existem alternativas viáveis dentro do próprio centro? Prédios históricos como o antigo Hotel Palace poderiam ser restaurados e adaptados, conciliando funcionalidade com preservação da memória urbana. Além disso, a Assembleia Legislativa segue instalada na região central — prova de que é possível resistir à lógica do afastamento.
É por isso que o silêncio institucional causa estranhamento. A pouco mais de um ano das eleições municipais de 2026, por que tanta urgência em aprovar e executar uma nova sede? Quais são os custos envolvidos? Quem se beneficia política e economicamente com esse projeto? São perguntas que ainda não tiveram respostas convincentes.
Como representantes eleitos, os vereadores têm o dever de dialogar com a sociedade, prestar contas e justificar suas decisões com clareza. A democracia exige presença, mas também transparência.
Revitalizar o centro de Aracaju começa com a permanência das instituições públicas que ajudam a mantê-lo vivo. Tirar a Câmara de lá não é um detalhe técnico: é uma escolha política — e, se for feita sem debate, será uma escolha questionável.
E a pergunta continua no ar: quem ganha e quem perde com essa mudança?
E por que silêncio por parte da maioria dos vereadores?
Emanuel Rocha é Historiador, repórter fotográfico, poeta popular e Coautor do Livro: Bairro América: A Saga de uma comunidade
Seja o primeiro a comentar